quinta-feira, 1 de março de 2012

Yarden Mount Hermon Red 2010 #CBE

Esta é a edição de número 66 da #CBE e a 2ª em que participo. O tema da vez é o mais inusitado de todos os 66 e foi sugerido pelo confrade Claudio Werneck (Le Vin au Blog) que mandou: "quanto mais diferente, incomum, curioso e pitoresco melhor".

Dei uma garimpada por algumas lojas, vi coisas diferentes, curiosas e incomuns, pelo menos para mim e minha escolha terminou sendo pelo incomum. Apesar de incomum a minha escolha me pareceu bastante atrativa por se tratar de um corte bordalês de um país que não sabia que produzia vinho em escala comercial internacional: Israel.

O vinho de uma região onde, para os cristãos, Noé produziu o primeiro vinho ("E começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha". Gênesis 9:20) e também que foi palco do primeiro milagre de Jesus: "ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram. Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala o noivo". João 2:8-9. 

Além destes fatos históricos referentes a região de onde provém o vinho, o mesmo também é um Vinho Kosher, que é um tipo desta bebida que satisfaz os rigorosos critérios de produção estabelecidos pelos rabinos, tornando-se assim adequados para o consumo por judeus ortodoxos*.

O Yarden Mount Hermon Red é produzido a partir de uvas de vários vinhedos situados nas frias Colinas de Golan, Galiléia. A fermentação alcoólica ocorre em tanques de aço inoxidável sob temperatura controlada. Após a fermentação alcoólica, o vinho é submetido à fermentação maloláctica e amadurece em tanques de aço inoxidável durante vários meses.
 
O Yarden Mount Hermon 2010 mostrou cor rubi sem sinais de evolução, com lágrimas finas e lentas. Ao nariz é bastante intenso e puro, com notas de framboesa e cereja complementadas por tons de especiarias (pimenta e um pouco de café). Em boca segue frutado, revelando estrutura sólida, com taninos macios e suaves, com acidez e álcool equilibrados e final médio longo. A medida que a temperatura do vinho foi igualando-se a temperatura ambiente a acidez passou a incomodar e o álcool a sobressair, não é por acaso que eles recomendam servir entre 13º e 15º.

Um vinho jovem com estimativa de Guarda entre 5 e 8 anos, mas já está pronto para beber.

Degustamos (eu, Juberlan, Rejane e meus pais) esse vinho do oriente médio com uma belíssima picanha ao forno acompanhada de batatas, vista ao fundo na imagem logo acima.

O Rótulo

Vinho: Yarden Mount Hermon Red
Tipo: Tinto
Castas: Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Malbec e Petit Verdot (corte Bordalês)
Safra: 2010
País: Israel
Região: Colinas de Golan, Galiléia
Produtor: Golan Heights Winery
Graduação: 14%
Onde Comprar: Pescadeiro
Preço Médio: R$ 60,00
Temperatura de Serviço: 16º
Outros atributos: Vinho Kosher


*Post Scriptum:

Pelo fato do vinho ser utilizado em numerosos cultos religiosos, os judeus insistem que o vinho destinado a ser usado em seus ritos religiosos deva ser produzido exclusivamente por judeus ortodoxos, para evitar sua possível contaminação ao ser manipulado por pessoas desprovidas de fé. Os vinhos kosher, que literalmente significa "certo" ou "correto", são produzidos sob estrita supervisão dos rabinos, e somente judeus ortodoxos, que respeitam o sabbath são aceitos para trabalhar nos processos de produção e engarrafamento dos mesmos. Alguns rabinos insistem que o vinho deva ser "fervido" (na verdade, submetido à pasteurização), de forma que os não judeus, portanto em sua visão, ateus, não mais o reconheceriam como vinho e, portanto não haveria o risco do vinho ser usado em seus rituais religiosos. O vinho assim tratado, "mevushal", lamentavelmente perde a maior parte de suas qualidades, mesmo quando são utilizadas as modernas técnicas de pasteurização ultra-rápida.

Em Israel, o vinho kosher deve ser produzido dentro das rigorosas leis alimentares vigentes no país, a saber:

1. Nenhum vinho pode ser produzido a partir de videiras com idade inferior a quatro anos.

2. O vinhedo se estiver localizado dentro de terras bíblicas, deve ser deixado uma vez sem cultivo a cada sete anos.

3. Somente videiras devem ser plantadas nas áreas de cultivo de vinhas.

4. Desde a chegada à vinícola, as uvas e o vinho resultante devem somente ser manuseados por judeus que respeitem integralmente o sabbath, sendo obrigatório o uso de materiais 100% kosher nos processos de produção, maturação e engarrafamento do vinho.

De todas estas leis, a segunda é de longe a mais dispendiosa e restritiva para ser seguida, porém com freqüência se usa um artifício para burlá-la. Assim, o vinhedo é vendido para um não judeu no ano em questão, que se encarrega de cultivar a terra e dar seqüência ao trabalho nas vinhas, revendendo-a no ano seguinte para o proprietário anterior, geralmente um judeu ortodoxo. Desta forma, as videiras não sofrem qualquer descontinuidade em seu ciclo produtivo, evitando-se desta forma os naturais prejuízos.

Na prática, no entanto, uma vinícola kosher acaba empregando um grande número de pessoas que não respeitam o sabbath, às quais é permitido manusear as uvas recém colhidas, sendo, porém vedado o contato com o mosto ou com o vinho.

Os enólogos e técnicos que não seguem os preceitos judaicos devem instruir os outros trabalhadores que os respeitam para realizar as operações físicas necessárias dentro da vinícola. Qualquer vinícola que se localize fora de Israel pode produzir vinhos kosher, desde que a quarta lei seja rigorosamente observada. Vinhos kosher de boa qualidade podem ser encontrados em várias regiões da França, Itália, África do Sul, Marrocos, Austrália e Estados Unidos, sendo que uma pequena parcela deste tipo de vinho é produzida em praticamente todos os países produtores de vinhos, para consumo local.

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