terça-feira, 20 de setembro de 2016

Aquecimento global ameaça indústria do vinho

Matéria publicada nesta segunda-feira (19) pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal conta que Neil Paulett, um fabricante de vinho da região de Vale Clare, no Estado da Austrália Meridional, parou o carro em frente a uma fila de videiras em uma tarde chuvosa recente e analisou que as uvas que crescem ali estão amadurecendo um mês antes do que costumavam quando ele abriu a vinícola que leva seu nome, no início da década de 80. Mais uvas estão amadurecendo ao mesmo tempo também, encurtando o período tradicional de colheita em duas semanas, disse Paulett. Alguns cientistas atribuem essas mudanças à elevação da temperatura, algo que, segundo os pesquisadores, pode ser uma ameaça para produtores de vinho no mundo todo. As uvas que amadurecem cedo demais podem não desenvolver os sabores ideais, e a colheita tardia pode levar a níveis alcóolicos que tornariam a bebida desagradável ao paladar, dizem cientistas e viticultores.
 
Segundo a reportagem do Journal algumas das maiores vinícolas da Austrália, com a ajuda de acadêmicos e pesquisadores, estão investigando formas de reduzir esse impacto. Em jogo estão cerca de 24 mil empregos nos setores de produção de vinho e colheita de uvas da Austrália, assim como exportações avaliadas em 2,1 bilhões de dólares australianos (US$ 1,6 bilhão) por ano. A Treasury Wine Estates Ltd., segunda maior vinícola australiana em volume, de acordo com dados de 2015 coletados pela firma de pesquisa Euromonitor International, está cogitando podar mais suas vinhas no fim do ano, técnica que pode atrasar o amadurecimento. Já a Taylors Wines, maior vinícola de Vale Clare e a 11a da Austrália em volume, também realiza sua primeira experiência de atrasar o amadurecimento através da poda e pode vir a aplicar a técnica a 20% de seus vinhedos. A Taylors também expandiu suas operações nos últimos anos, em parte para processar mais uvas ao mesmo tempo e aproveitar melhor safras mais curtas. Algumas empresas estão espalhando mais palha entre as videiras para manter o solo resfriado.
 
De acordo com o WSJ se o período da colheita continuar se antecipando, os fabricantes de vinho ficarão sob forte pressão, diz Andrew Pike, que administra a Pikes Wine em Vale Clare com um irmão. “Não vamos mais conseguir o perfil de sabores que estamos procurando.” As uvas deixadas na videira por muito tempo continuam amadurecendo e acumulam mais açúcar, que a levedura transforma em álcool durante a fermentação — então, mais açúcar significa mais álcool. Isso não é só um problema para o sabor, mas algumas jurisdições também taxam mais os vinhos com teor alcoólico mais alto.
 
Fonte: Jornal do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário